ORIGEM DO FILÓ ITALIANO


    Vamos contar um pouco da vida e história dos nossos antepassados que desbravaram esta terra, vindos da Itália. Viajaram cerca de trinta dias cruzando o Atlântico de navio a vapor. Várias levas se espalharam em diversos pontos do Brasil e da América do Sul. Os que aqui se estabeleceram após desembarcarem no porto do Rio Guaíba, em Porto Alegre, subiram a serra com mulas carregando a bagagem e abrindo picadas com facão . As famílias eram numerosas e era comum pessoas morrerem no decorrer da viagem. A necessidade de sobrevivência e o anseio de buscar novos horizontes despertavam um espírito aventureiro encorajando-os a seguir sempre em frente.
    Aqui, chegando, não havia nenhuma infra-estrutura pronta para recebê-los. Montaram acampamentos. Desbravaram matos. Ergueram suas casas; oficinas; fizeram seus moinhos; lavraram a terra e dela cultivaram seu alimento, e, a região que a principio colocava dificuldades pelas acidentadas passou a ser um terreno fértil favorecido pelo clima para o cultivo de videiras. Afinal, o vinho a sagrada bebida de Baco não podia faltar.
    A religiosidade era fundamental, uma marca fortemente presente na vida das famílias e da comunidade. Não faltavam imagens sagradas dentro dos lares, e obviamente, como não poderia deixar de ser, toda comunidade tinha uma capela. Traziam consigo o culto aos Santos de voto. Costumavam reunirem-se aos domingos à tarde para orar o terço e cantar “Lê Tánie” (Ladainhas cantadas). Uma vez por mês o padre vinha de longe a cavalo para a Santa Missa, pois o mesmo padre atendia várias capelas e aproveitava a oportunidade para realizar casamentos e batizados. Uma vez por ano dedicava-se um dia de festa ao Santo de voto da comunidade. A festa era regada de churrasco, pão e vinho e não faltava a diversão como o jogo de bochas, carteado, jogo de mora e cantos típicos. Estas diversões eram comuns aos domingos. À tarde, no decorrer da festa e/ou encontros era servido o café com biscoitos.
    Durante os dias de semana, costumavam reunirem-se à noite nas casas dos vizinhos e parentes. Primeiramente rezavam o terço diante da imagem, e após, os homens reuniam-se em um ambiente para jogar, beber vinho e tratar de assuntos como negócios e a vida cotidiana. As mulheres não envolviam-se nos assuntos dos homens, elas reuniam-se em outro ambiente, para falar sobre família, a lida doméstica, culinária e enquanto isso filavam com a palha de linho e os fios de lã de ovelha para fazer vestes. Faziam também a “dressa” (trança de palha) para confeccionar chapéus e “sporta” (bolsa onde se carregava diversos objetos).
O encontro era regado de pinhão, batata doce, amendoim, pipoca, fregolá e claro, o bom vinho. Nesses encontros contavam os mais diversos causos e anedotas.
    O filó era então o ato de enrolar fio enquanto se aproveitava a atividade para também realizar encontros e descontrair-se.
Surgiu assim a tradição do filó. E hoje, nós do grupo “Nei tempi del filó” resgatamos a cultura típica de nossa gente de fé, coragem e muita vontade voltada para o trabalho. O que antigamente uma cultura típica cotidiana, um estilo de vida corriqueiro, é hoje por nós resgatado como atividade artística, estilizado e adequado aos novos tempos. É uma amostra nos tempos atuais das velhas épocas que ficaram nas saudades.

Edson Luiz Paesi e Lucia Vidor Paesi